O Coronavírus chegou ao Brasil e uma das primeiras determinações para se proteger e evitar a proliferação foi o isolamento social. Fechar as escolas, igrejas, lojas e outros locais foi a primeira medida para evitar a aglomeração de pessoas e com os Corais, Orquestras e escolas de música não foi diferente. Na segunda quinzena de março, a Associação Cultural Canarinhos de Itabirito, suspendeu então, por tempo indeterminado, as suas atividades presenciais.
A primeira pergunta que vem a mente é: como um coral ou uma orquestra, atividades essencialmente sociais e coletivas, podem funcionar num momento em que pessoas estão sendo solicitadas a se isolar fisicamente? Para quem já teve a oportunidade de assistir concertos e apresentações pela internet com pessoas de várias partes do mundo fazendo música a partir de dispositivos digitais, mal imagina quantos horas de edição são necessárias para alcançar um resultado de qualidade.
É fato! A atual necessidade de distanciamento social tem feito com que escolas, orquestras e corais do mundo inteiro procurem por novas formas de seguir em frente com suas atividades incorporando em suas rotinas de trabalho o uso de plataformas de ensino à distância, metodologias e recursos digitais. Com o Coral Canarinhos não foi diferente, professores e maestros vem se reinventando e dando segmento às atividades mesmo a distância.
Quatro coros, três grupos instrumentais e uma rotina semanal de ensaios, aulas de técnica vocal, flauta doce, violão e violino para 250 alunos – crianças, adolescentes e jovens com idades entre 6 a 28 anos. Resumidamente essa é a descrição das atividades da instituição que com o novo cenário, tiveram que ser adaptadas para continuarem em pleno funcionamento. Para os pais e alunos, uma posição firme nos comunicados: “Não estamos de férias, manteremos as nossas atividades de forma virtual”! Bastou alguns dias para todos se organizarem e na semana seguinte, os conteúdos já estavam sendo compartilhados entre professores e alunos.
Cada regente e professor tem elaborado as suas estratégias de acordo com a faixa etária de seus alunos. Tem sido um período de experimentação, adaptação e desafios. “Desenvolver atividades e conteúdos online é uma experiencia, com certeza diferente, nova e inquietante. Enxergo nesse período complicado e apavorante que estamos vivendo uma possibilidade de buscar novas práticas e incentivar os alunos e alunas a desenvolverem uma autonomia no seu próprio processo musicalizador. As novas ferramentas que vem surgindo auxiliam bastante e dessa forma todos aprendemos ao mesmo tempo, buscando sempre aprimorar”. Pontua Paulo Silveira, professor de flauta doce e musicalização.
As reuniões pedagógicas mensais passaram a ser semanais e o processo de criação e documentação das atividades é feito em tempo real e com livre acesso a todos do corpo docente. “Sabemos que algumas escolas regulares adotaram a educação domiciliar e a nossa preocupação principal é a de que as nossas atividades sigam auxiliando no desenvolvimento artístico e humano dos coralistas e famílias sem sobrecarregá-los”. Ressalta Éric Lana, coordenador pedagógico e maestro.
Além do compartilhamento de vídeos e materiais pelo whatsapp, uma outra estratégia tem sido as aulas em tempo real por aplicativos de videoconferência e plataformas de ensino a distância. Para os alunos, a sensação é de descobertas e satisfação. “A experiência da aula online é muito inovadora já que nunca tinha tido contato com esse tipo de aula, nem imaginava que dava para fazer um ensaio de coral ou uma aula de violino online, mas mesmo com todos os desafios nesse tipo de prática, é bem gratificante saber que conseguimos manter o ensino do coral e sua continuidade. Aprender e continuar fazendo o que nós gostamos mesmo tendo todas as dificuldades da situação atual é algo que anima e também nos mantém preparado para quando tudo voltar ao normal”. Afirma Yasmin Santos, 16, aluna da instituição.
Uma metodologia já conhecida
Alguns Canarinhos já tinham familiaridade com uma das plataformas de ensino a distância adotada nessa quarentena. Em 2017, Éric Lana, maestro de um dos Coros da instituição, precisou se ausentar por um tempo para o seu doutorado em Portugal. O desafio, naquela época, era encontrar formas de conduzir as atividades, mesmo morando em outro país.
“Naquele momento, recursos tecnológicos e estratégias de ensino à distância não apenas serviram ao coro como também se tornaram o objeto da minha pesquisa científica. Criamos um ambiente virtual dedicado a explorar novas formas de prática coral a partir de plataformas digitais e aplicativos dedicados a auxiliar nas atividades. Com a quarentena o desafio tem sido expandir todas as atividades e grupos para o ambiente virtual”. Ressalta Eric.
A implementação desse recurso com os coralistas se tornará ainda mais eficaz depois do período da quarentena, já que sem o contato presencial, os próprios alunos precisam criar um rotina e utilizar a plataforma. “Andamos praticando pelo celular em nossas casas, e vem sendo muito legal. Além de aprender, ainda temos que ter a autonomia de pegar e estudar, olhar as notas, tentar tocar os instrumentos, porquê querendo ou não é você que tem que fazer”. Conclui a aluna da instituição, Maria Fernanda Xavier, 13.
#CanarinhoEmCasa
Nas redes sociais, a estratégia para continuar a movimentação das contas foi o uso da hashtag #canarinhoemcasa e o compartilhamento de vídeos e fotos dos próprios alunos com suas rotinas de estudo em casa. A ideia é mostrar para o público que as atividades continuam ativas e mostrar a dedicação e o empenho dos professores e principalmente dos alunos. Além de ser uma oportunidade de trocar experiências com outros coros e projetos sociais que estão se adaptando da mesma forma.
É possível acessar as contas da instituição, no instagram e no facebook, buscando pelo nome: Coral Canarinhos de Itabirito. Outras informações e notícias podem ser encontradas também pelo site: canarinhosdeitabirito.org.br
Toda a equipe dos Canarinhos segue acompanhando as notícias e seguindo as ordens dos órgãos de saúde, mas por enquanto ainda não há uma previsão para o retorno das atividades. Por ora, professores e alunos seguem se descobrindo e reinventando formas de manterem o contato e de fazerem música mesmo a distância.